A pesquisa

Desde 2011, a Cia de Escuta investiga questões a respeito de memória, identidade e ausência por meio de um processo documental e de auto ficção. O processo teve origem quando, durante a pesquisa, o grupo se deparou com o depoimento da escritora Lya Luft sobre a doença de sua mãe, diagnosticada com Alzheimer: “(...)Uma bela mulher ativa tornou-se inexoravelmente uma estranha, raramente ostentando uma vaga semelhança com a que fora minha mãe.” - esse material foi o disparador para a pergunta-dispositivo dos artistas durante os anos que seguiram: “somos donos de nossas memórias?”

Em pesquisa pela internet descobrimos a ABRAZ (Associação Brasileira de Alzheimer) , que conta com núcleos de apoio em todo o Brasil. Na zona leste de São Paulo, local em que nasceu e mora a atriz pesquisadora, há apenas 2 núcleos.

Em janeiro de 2011 entramos em contato com a coordenadora do núcleo da Penha - Yone de Souza Beraldo, e começamos a frequentar as reuniões dos grupos de apoio, sempre nos identificando como pesquisadores. Em maio, começamos a frequentar também encontros no núcleo Belém, sob coordenação de Carlos Eduardo Meneghelli. A partir deste primeiro contato, agendamos entrevistas com alguns dos participantes destes núcleos.

Iniciou-se aí um estudo aprofundado acerca da metodologia de pesquisa em história oral com supervisão da Profa. Dra. Maria Fernanda Costa (pesquisadora do Núcleo de Estudo e Pesquisa em Identidade e História Oral da PUC-SP).

As entrevistas em áudio foram transcritas, e serviram como base para a dramaturgia do espetáculo, aliadas à memória da atriz e do diretor. Em três anos de pesquisa contínua, a Cia da Escuta tem verticalizado seu discurso no âmbito do teatro documentário e da auto ficção, criando dispositivos capazes de transpor poeticamente a história real de entrevistados e dos integrantes do próprio grupo para a cena.